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sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

APELO DO PAPA BENTO XVI: A RAZÃO JAMAIS DEIXE DE PROCURAR A VERDADE

Cidade do Vaticano, 18 jan (RV) - Bento XVI lança um apelo a não cansar-se na busca da verdade, na alocução que teria pronunciado pessoalmente, esta manhã, durante a visita à universidade romana "La Sapienza". Visita depois anulada em decorrência da falta de "pressupostos para um acolhimento digno e tranqüilo" _ como escreveu o cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, numa carta endereçada ao reitor da universidade, Renato Guarini.O texto do pontífice foi lido por um professor na Sala Magna da universidade, durante a inauguração do Ano acadêmico de nº. 705 da universidade fundada pelo papa Bonifácio VIII em 1303, e foi longamente aplaudido por todos os presentes. Uma alocução intensa, um hino à liberdade e à responsabilidade da razão que não deve fechar-se à grande mensagem que vem da fé. Em sua alocução, o papa expressa a sua gratidão pelo convite a visitar a universidade "La Sapienza", que considera "entre as mais prestigiosas universidades do mundo" pelo seu "alto nível científico e cultural". "A "La Sapienza" _ afirma _ "foi à universidade do papa, mas hoje é uma universidade leiga" e, como tal, autônoma "de autoridades políticas e eclesiásticas", "ligada exclusivamente à autoridade da verdade": nesse sentido, é uma instituição necessária para a sociedade moderna. Mas _ pergunta-se Bento XVI _ “o que o papa tem a fazer ou a dizer na universidade”? “Seguramente _ ressalta _ não deve procurar impor a outros de modo autoritário a fé, que pode ser somente doada em liberdade." Sua tarefa, ao invés, é "manter firme a sensibilidade pela verdade". Cita Sócrates: sobre o interrogar-se desse filósofo grego nasce o primeiro germe da universidade. É a “sede de conhecimento”... que é própria do homem. Ele quer saber o que é tudo aquilo que o circunda. Quer a verdade". Assim, os cristãos dos primeiros séculos _ recordam o papa _ reconheceram a si mesmos naquele interrogar-se socrático, naquela "busca árdua da razão para alcançar o conhecimento da verdade inteira”. O pontífice convida a não perder "a coragem da verdade", a não desviar-se "da busca da verdade", mas a permanecer "em caminho com os grandes que ao longo da história lutaram e procuraram, com as suas respostas e com as suas inquietações pela verdade, que remete continuamente, para além de cada resposta individual"."A verdade _ precisa Bento XVI _ jamais é somente teórica". E citando Santo Agostinho recorda que "o simples saber... entristece". De fato, "quem vê e toma conhecimento somente de tudo aquilo que se dá no mundo, acaba por tornar-se triste. Mas a verdade significa mais que saber: o conhecimento da verdade tem como finalidade o conhecimento do bem”. "Esse _ especifica _ é também o sentido do interrogar-se socrático: qual é o bem que nos torna verdadeiros? A verdade nos torna bons, e a bondade é verdadeira: é esse o otimismo que vive na fé cristã, porque a ela foi concedida a visão do Logos, da Razão criadora que, na encarnação de Deus, se revelou junto como o Bem, como a própria Bondade.” Em seguida, o Santo Padre recorda "o mérito histórico de Santo Tomás de Aquino", que, "diante da diferente resposta dos Padres da Igreja por causa de seu contexto histórico, “evidenciou a autonomia da filosofia da teologia e, portanto, “o direito e a responsabilidade próprios da razão que se interroga baseada em suas forças”“. O papa afirma que “filosofia e teologia devem relacionar-se entre si ‘sem confusão e sem separação’”. 'Sem confusão' significa que cada uma das duas deve conservar a própria identidade”. "A filosofia deve permanecer verdadeiramente uma busca da razão na própria liberdade e na própria responsabilidade; deve ver os seus limites e justamente assim também a sua grandeza e vastidão.” “A teologia deve continuar recorrendo a um tesouro de conhecimento que ela mesma não inventou que sempre a supera e que, jamais sendo totalmente exaurível mediante a reflexão, justamente por isso ativa sempre novamente o pensamento.” Ao mesmo tempo, não deve haver separação: "a filosofia não recomeça cada vez do ponto zero" daquele que pensa de modo isolado, fora da história, mas se insere "no grande diálogo da sabedoria histórica" sem "fechar-se diante daquilo que as religiões e, em particular, a fé cristã, receberam e doaram à humanidade como indicação do cominho”. Efetivamente _ afirma o pontífice _ "várias coisas ditas pelos teólogos ao longo da história ou também traduzidas na prática pelas autoridades eclesiais se demonstraram falsas pela história e hoje nos confundem. Mas, ao mesmo tempo, é verdade que a história dos santos, a história do humanismo cresceu baseada na fé cristã, que demonstra a verdade dessa fé em seu núcleo essencial, tornando-a com isso também uma instância para a razão pública".O papa recorda com gratidão as conquistas da humanidade no âmbito do conhecimento e dos direitos humanos. "Mas o caminho do homem _ acrescentou _ nunca pode dizer-se completado e o perigo da queda na desumanidade jamais está totalmente esconjurado.” “O perigo do mundo ocidental... é hoje de que o homem, justamente em consideração à grandeza de seu saber e poder se renda diante da questão da verdade", prosternado "diante da pressão dos interesses e da atração da utilidade”. Bento XVI cita o filósofo Jürgen Habermas, que fala em âmbito político da "sensibilidade pela verdade", que muitas vezes é sufocada pelos interesses particulares. A mensagem cristã _ afirma _ quer sempre ser "um encorajamento à verdade e assim uma força contra a pressão do poder e dos interesses".Por isso, convida a não confinar à esfera privada a fé "com a sua mensagem dirigida à razão". De fato, se "a razão _ solícita de sua presumível pureza _ se torna surda à grande mensagem que vem da fé cristã e da sua sabedoria, ela se torna árida" e "não se torna maior, mas menor". Assim, a nossa cultura européia se preocupa somente com a sua laicidade, "se separa das raízes das quais vive", "não se torna mais racional e mais pura, mas se descompõe e se esfacela”. Por fim _ volta a perguntar-se Bento XVI _: "O que o papa tem a fazer ou a dizer na universidade?"Simplesmente isto: "convidar sempre novamente a razão a colocar-se em busca do verdadeiro, do bem, de Deus e, nesse caminho, solicitá-la a notar as úteis luzes surgidas ao longo da história da fé cristã e a perceber assim Jesus Cristo como a Luz que ilumina a história e ajuda a encontrar o caminho rumo ao futuro". (RL)

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