Cidade do Vaticano, 24 jan (RV) - "Uma imploração conjunta feita com um só coração e uma só alma": é esse o sentido espiritual da Semana de oração pela unidade dos cristãos, que se concluirá nesta sexta-feira, e à qual Bento XVI dedicou, ontem 23 (foto), a catequese da audiência geral, realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano. O Santo Padre percorreu sinteticamente as etapas desse evento, que este ano celebra seus 100 anos de vida, e fez votos de que os cristãos saibam dar um testemunho de unidade para tornar "acessível" a face de Deus ao mundo que "sofre" por Sua ausência."Pedindo a graça da unidade, os cristãos se unam à própria oração de Cristo e se comprometam a atuar ativamente a fim de que toda a comunidade O acolha e O reconheça como único Pastor e Senhor, e possa assim experimentar a alegria de Seu amor."Bento XVI explicou logo no início de sua ampla catequese o valor do que chama de "concorde imploração feita com uma só alma e um só coração", reflexo da invocação que dois mil anos atrás Jesus elevou por primeiro com o seu "ut unum sint", "para que todos sejam um".E aquele valor, no início de 2008, apresenta _ explicou o papa _ um leque de significados ainda mais amplo porque exatamente há um século _ após séculos de hostilidade _ os cristãos das várias confissões redescobriram, para além das divisões, a força unificadora da oração em comum.Bento XVI repercorreu a história da Semana de oração pela unidade dos cristãos a partir da intuição definitiva "verdadeiramente fecunda" do pastor anglicano, padre Paul Wattson, que em 1908 lançou a iniciativa de um Oitavário de oração, que se tornou, vinte anos depois _ graças à contribuição decisiva do Abbé Couturier de Lyon _ a atual Semana de oração.E quando 40 anos atrás também os padres conciliares do Vaticano II perceberam "a urgência da unidade" entre os cristãos, a Semana de oração _ reconheceu o pontífice _ tornou-se "um dos momentos mais qualificadores e profícuos" do caminho ecumênico.Após os acenos históricos, Bento XVI se deteve sobre o fulcro espiritual do ecumenismo, ou seja _ frisou _ sobre aquilo que "o vivificou", isto é, a oração, que converte o coração e impele à "santidade de vida":"'Orai continuamente', essa Palavra de São Paulo é o tema da semana deste ano; é, ao mesmo tempo, o convite que jamais cessa de ressoar em nossas comunidades, para que a oração seja a luz, a força, a orientação dos nossos passos, em atitude de humilde e dócil escuta do nosso comum Senhor."Um passo além da oração é a oração vivida em "comum", sobre cuja validez se detém longamente o Decreto conciliar sobre o ecumenismo, Unitatis redintegratio. Nesse tipo de oração, defende Bento XVI, a fé indivisa em Cristo brilha mais do que as divisões confessionais:"Na oração comum, as comunidades cristãs se colocam juntas diante do Senhor e, tomando consciência das contradições geradas pela divisão, manifestam a vontade de obedecer à Sua vontade recorrendo confiantes a Seu socorro onipotente (...) A oração comum não é, portanto, um ato de voluntarismo ou puramente sociológico, mas é expressão da fé que une todos os discípulos de Cristo."Portanto, a oração comum fez desenvolver o diálogo ecumênico e "tais amistosas relações" _ reconheceu o pontífice _ depois "melhoraram o conhecimento recíproco", intensificando a comunhão e "tornando, ao mesmo tempo, mais clara a percepção dos problemas que permanecem abertos e que fomentam a divisão". E aí, o papa falou de coração o quanto uma humanidade hoje muitas vezes indiferente ao sobrenatural pode beneficiar-se do alcance da plena comunhão entre os cristãos:"O mundo sofre pela ausência de Deus, pela inacessibilidade de Deus, deseja conhecer a face de Deus. Mas como poderiam e podem conhecer essa face de Deus na face de Jesus Cristo se nós cristãos estamos divididos, se um ensina contra o outro, se um está contra o outro? Somente na unidade podemos mostrar realmente a esse mundo _ que precisa da face de Deus, da face de Cristo, que é a face de Deus _ podemos mostrar ao mundo essa face."Ao término da catequese e das saudações, em várias línguas, Bento XVI concluiu a audiência geral recordando a figura de São Francisco de Sales _ padroeiro da imprensa católica _ de quem se celebra amanhã, quinta-feira, a memória litúrgica."Bispo de Genebra num período de graves conflitos _ ressaltou _ ele foi homem de paz e de comunhão. Mestre de vida espiritual, ele ensinou que a perfeição cristã é acessível a toda pessoa."O Santo Padre despediu-se dos presentes concedendo a todos a sua Bênção apostólica. (RL)
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