A religião plasmou a cultura
ocidental? Uma pergunta que em primeiro momento pode receber uma
resposta negativa. Mas, se observamos com atenção o quanto tal pergunta é
abrangente, é possível que, aos poucos, mudemos nossos conceitos.
Na
era do Estado Laico, onde acontece a ruptura total entre Igreja e
Estado, a religião é tida como questão privada e esquece-se, por exemplo
que, a mesma é um fato social.
Os dias de guarda,
instituídos pelo cristianismo, por exemplo, ainda não foram excluídos do
calendário. Aliás, quem se atreveria a recusar um dia de descanso?
Dentro
de uma realidade de Brasil, o que caracteriza a cidade do Rio de
Janeiro é a figura do “Deus Cristão” de braços abertos, sendo assim,
alguém se habilitaria a demolí-lo a fim de sustentar sua 'laicidade'?
O teólogo responde
Diante
das respostas à essas perguntas, que com certeza serão negativas, como
não responder à primeira pergunta do texto com um generoso “Sim”? O
Papa Bento XVI, que escreveu um livro intitulado "Europa e seu
fundamentos de hoje e de amanhã", quando ainda era cardeal, reforçou o
seu parecer sobre a religiosidade enraizada na cultura em um recente
pronunciamento, na Alemanha.
"A cultura da Europa
nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, do encontro entre a
fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos Gregos e o pensamento
jurídico de Roma. Este tríplice encontro forma a identidade íntima da
Europa. Na consciência da responsabilidade do homem diante de Deus e no
reconhecimento da dignidade inviolável do homem, de cada homem, este
encontro fixou critérios do direito, cuja defesa é nossa tarefa neste
momento histórico”, ressaltou Bento XVI durante discurso proferido no
Parlamento alemão, em setembro de 2011.
E agora? Excluímos os símbolos religiosos?
Diante
de tamanha fundamentação, é hora de ir adiante, aos dias atuais. Tirar
os crucifixos das escolas e demais locais públicos diminuiriam a
laicidade de um estado ou seria o caso de desenvolver-se uma maior
“consciência cultural” capaz de discernir aquilo que está enraizado na
história de um povo daquilo que não são traços característicos de tal
cultura? O professor universitário Flaubert Paiva, jornalista com
especialização em Jornalismo Cultural e doutorando em Humanidades e
Artes pela Universidade Nacional de Rosário de Buenos Aires, Argentina,
explica sobre este processo de fusão entre religião e Estado, que
segundo ele, foi capaz de criar a identidade ocidental.
"Considero
que a retirada de um crucifixo não vem contribuir em absolutamente
nada, no que diz respeito a formação e ou intensificação da laicidade do
Estado. A questão dos valores cristãos estão muito mais arraigados à
nossa sociedade do que podemos pensar. Queiramos ou não, o nosso
comportamento em sociedade – por mais transgressões que nós vejamos – é
determinado pela conduta moral cristã. Acreditar que imagens sacras
interferem na posição de um Estado Laico, ao meu ver, é a máxima
demonstração de ignorância", afirmou o professor.
Considerações finais e... culturais
Quando
pensamos em afrescos, igrejas, belíssimas esculturas e obras de arte,
pensamos em Michelangelo, considerado um dos maiores autores da história
da arte do Ocidente. A admiração por este grande artista não diminui se
pensarmos que sua matéria prima foi justamente a fé de um povo. E
então, censuramos Michelangelo?