Desde os inícios da década de 1970 já se falava em reprodução assistida em laboratório; em manipulação genética; em engenharia genética e até em terapia genética. Acontece que até 1987, quando nasceu o primeiro bebê de proveta, e sobretudo até 1997, quando foi obtido o primeiro clone de animal a partir de células adultas (ovelha Dolly), tudo parecia colocar-se num horizonte longínquo, onde se tornava difícil distinguir o possível e o simplesmente imaginável. Como comentamos em vários artigos recentes, hoje os avanços são tantos e tão rápidos, que até o anjo Gabriel ficaria surpreso com a adesão incondicional de um certo número de cientistas. Também eles concordam com o anjo de que a Deus nada é impossível, pois também mais nada é impossível para biogeneticistas e biotecnólogos. Tudo é questão de tempo. E de fato, a cada dia aparecem, sistematicamente, notícias sobre novas e sensacionais descobertas. Como se fala em “prato do dia”, hoje poder-se-ia até criar uma página diária com o título: “a descoberta do dia”, e seguramente ela jamais ficará em branco. É verdade que não poucas notícias são requentadas e até ideologicamente trabalhadas. Mas indiscutivelmente mesmo as pessoas mais ligadas ao campo da biogenética, vão vivendo de susto em susto, sempre hesitando entre o fascínio e o temor. A notícia do último dia 25 de janeiro de 2008 foi esta: Craig Venter o conhecido geneticista (que, juntamente com James Watson, descobriu a estrutura do material genético – DNA - em 1953) teria acabado de criar a estrutura básica para um genoma sintético e este seria o passo mais importante para se obter vida sintética ou artificial. Note-se que já não se trata de transmissão artificial da vida, como a que vem ocorrendo nos processos denominados de reprodução assistida, mas de vida artificial. Há algum tempo se vem falando em “Second Life” (segunda vida) como expressão de um mundo virtual onde tudo parece real. Trata-se de uma espécie de simulador onde os usuários criam personagens, trabalham, divertem-se, gastam dinheiro, fazem negócios, cultivam vida social, criando amizades, namoros e casamentos, mas sempre, tudo restrito à tela de um computador. Agora já não se trataria de mundo virtual, mas de um mundo real mesmo. Para uma melhor compreensão do que isto significa, convém fazer uma retrospectiva.
Em maio de 2005 pesquisadores da Universidade de Boston anunciavam que um dia a biologia poderia produzir organismos artificiais com fins terapêuticos. Da “simples” modificação genética de uma bactéria, através da agregação de um gene estranho, agora já se poderia inserir uma rede genética inteira, com a ação de muitos genes. Para medir o alcance deste passo, serve uma comparação: a engenharia genética denominada convencional, por mais avançada que se apresente, equivaleria tão somente à troca da ponta de uma chave de fenda; no caso em questão, da possibilidade de se criar vida artificialmente, estaríamos falando da mudança do conteúdo total de toda a caixa de ferramentas. Se a partir da década de 1990 conseguimos, progressivamente, ler o código genético da espécie humana e de inúmeras outras espécies de seres vivos, agora estaríamos em condições de reescrever o código genético destes mesmos seres vivos e produzir outros seres que jamais existiriam através do que se denomina de evolução natural. Tratar-se-ia portanto de algo mais complexo e com maiores conseqüências sob todos os aspectos: existenciais, comportamentais, jurídicos, éticoPara uma melhor compreensão ainda, convém recordar que há alguns anos se anunciava o desenvolvimento de tecnologias capazes de transferir um vírus geneticamente modificado para integrar o genoma de uma bactéria hospedeira, que por sua vez seria capaz de criar um RNA mensageiro para ativar ou então bloquear a produção de uma proteína específica, ao serviço dos interesses do seu criador. Estamos falando de verdadeiros interruptores que ativam ou desativam genes, de acordo com as conveniências. Se antes a busca se localizava no conhecer os mecanismos da vida, através da observação e depois do desmonte, agora se busca criar de sistemas novos e sofisticados capazes de gerar a vida.
A “velha geração” de biólogos, biogeneticistas e biotecnólogos procurava compreender e reproduzir a vida existente. Agora trata-se de criar, literalmente, algo de novo. Projetando e construindo máquinas que atuem dentro das células, estes novos artesãos da vida têm objetivos bastante claros: inserir um cromossomo sintético dentro de uma célula e obter assim a criação de um organismo artificial, vivo, que jamais existiu ou seria capaz de existir por si próprio na evolução normal das espécies.
Esta operação teria três etapas: a primeira, já executada, pela transferência do genoma de uma bactéria para outra, transformá-las em espécies diferentes; a segunda, agora em execução, produzir quimicamente fragmentos de DNA desta bactéria; a terceira, em andamento, construir verdadeiras “máquinas” que atuem dentro das células.
Todas estas experiências visam criar novos seres que tenham vida própria, mas que obedeçam aos comandos humanos dados previamente na própria construção destes novos seres vivos. Com isto se visam criar fábricas biológicas que poderão produzir verdadeiros biocombustíveis em laboratório, como serão capazes de digerir lixo tóxico, absorver dióxido de carbono e outros gazes poluentes que estão na origem do efeito estufa.
As expectativas nesta linha não são de hoje, e de alguma forma, já há milhões e milhões micro organismos em ação: conjugando microeletrônica, biologia molecular e nanotecnologia, micróbios funcionam como se fossem sondas de DNA, passando as informações para bactérias associadas a genes informantes e iniciado o trabalho de limpeza. Esta operação denomina-se “biorremediação” e já está atuando em muitas partes do mundo, despoluindo rios, lagos e mares...
E mais ainda: o sonho é que estas verdadeiras usinas biológicas sejam verdadeiras indústrias terapêuticas que substituam os tradicionais medicamentos. Aliás os “tradicionais” medicamentos, por mais sofisticados que sejam, já há algum tempo se encontram na lista de produtos que deverão ser logo descartados: eles são por demais genéricos, agindo em todas as direções e com isto muitas vezes fazendo mais mal do que bem. O que já algum tempo se encontrava entre os objetivos mais importantes era a produção de medicamentos personalizados e “sob medida”. Se estas experiências agora anunciadas tiverem êxito até estes medicamentos iriam tornar-se dispensáveis. Agora bastaria tomar pílulas que seriam capazes de ligar ou desligar as fábricas de medicamentos, que seriam nossas próprias células.
Convenhamos que tudo isto é difícil de ser compreendido e nos deixa realmente confusos. Mais difícil ainda é admitir a possibilidade de se criar vida artificial, com a capacidade de auto- sustentação e reprodução. Sempre ouvimos dizer que só Deus é o Criador de tudo. Será que agora precisamos admitir que o homem também seria capaz de criar algo a partir do nada?
Não é bem assim. Em primeiro lugar porque estamos ainda tratando de bactérias, organismos super simples; e no caso em questão estamos falando de uma bactéria chamada mycoplasma genitalium, cujo genoma foi mapeado, estudado e desmontado, para ser recomposto com outras propriedades. Fazendo uma comparação com o mundo da informática se poderia dizer que foi preparado um software ( programa) para uma bactéria cumprir uma tarefa específica, mas até aqui ainda não se sabe como ativar este programa. E como observa o professor de engenharia biomédica de Boston, Jim Collins, a ciência ainda está longe de entender o que é a vida e o que a comanda.
De qualquer forma, decisivamente nos encontramos hoje numa situação onde a tecnologia avança a passos largos, bem mais de pressa do que as reflexões de cunho jurídico e ético. Ademais, ao mesmo tempo em que olhamos com esperança para o que se denomina medicina molecular e de biologia ambiental, capazes de apagar os efeitos desastrosos de pecados anteriores, uma vez mais, e sempre de novo, nos sentimos perplexos. Isto não só porque estas novas criaturas podem “enlouquecer” , mas porque podem ser programadas para enlouquecerem e passarem a agir perversamente. Como tantos outros inventos anteriores, todas as descobertas vêm carregadas de uma ambivalência radical: tanto podem ser colocadas ao serviço da vida, quanto ao serviço da morte. Com uma diferença em relação ao passado: fica cada vez mais claro que as clássicas armas representadas por fuzis, metralhadores, canhões e tanques, só servirão para produzir filmes de terror e para serem guardadas em museus. As verdadeiras armas serão invisíveis e bem mais mortíferas. E as infundadas acusações contra Sadam Hussein, de que possuiria terríveis armas biológicas e bacteriológicas irão se transformar em verdades comprovadas: não no pobre e destruído Iraque mas em milhares de laboratórios espalhados pelo mundo afora, sempre na espera de receber uma única ordem referente à direção para a qual serão encaminhadas. Ninguém vê, ninguém sente, ninguém sente nenhum odor: simplesmente todos morrem sem causas aparentes
Em maio de 2005 pesquisadores da Universidade de Boston anunciavam que um dia a biologia poderia produzir organismos artificiais com fins terapêuticos. Da “simples” modificação genética de uma bactéria, através da agregação de um gene estranho, agora já se poderia inserir uma rede genética inteira, com a ação de muitos genes. Para medir o alcance deste passo, serve uma comparação: a engenharia genética denominada convencional, por mais avançada que se apresente, equivaleria tão somente à troca da ponta de uma chave de fenda; no caso em questão, da possibilidade de se criar vida artificialmente, estaríamos falando da mudança do conteúdo total de toda a caixa de ferramentas. Se a partir da década de 1990 conseguimos, progressivamente, ler o código genético da espécie humana e de inúmeras outras espécies de seres vivos, agora estaríamos em condições de reescrever o código genético destes mesmos seres vivos e produzir outros seres que jamais existiriam através do que se denomina de evolução natural. Tratar-se-ia portanto de algo mais complexo e com maiores conseqüências sob todos os aspectos: existenciais, comportamentais, jurídicos, éticoPara uma melhor compreensão ainda, convém recordar que há alguns anos se anunciava o desenvolvimento de tecnologias capazes de transferir um vírus geneticamente modificado para integrar o genoma de uma bactéria hospedeira, que por sua vez seria capaz de criar um RNA mensageiro para ativar ou então bloquear a produção de uma proteína específica, ao serviço dos interesses do seu criador. Estamos falando de verdadeiros interruptores que ativam ou desativam genes, de acordo com as conveniências. Se antes a busca se localizava no conhecer os mecanismos da vida, através da observação e depois do desmonte, agora se busca criar de sistemas novos e sofisticados capazes de gerar a vida.
A “velha geração” de biólogos, biogeneticistas e biotecnólogos procurava compreender e reproduzir a vida existente. Agora trata-se de criar, literalmente, algo de novo. Projetando e construindo máquinas que atuem dentro das células, estes novos artesãos da vida têm objetivos bastante claros: inserir um cromossomo sintético dentro de uma célula e obter assim a criação de um organismo artificial, vivo, que jamais existiu ou seria capaz de existir por si próprio na evolução normal das espécies.
Esta operação teria três etapas: a primeira, já executada, pela transferência do genoma de uma bactéria para outra, transformá-las em espécies diferentes; a segunda, agora em execução, produzir quimicamente fragmentos de DNA desta bactéria; a terceira, em andamento, construir verdadeiras “máquinas” que atuem dentro das células.
Todas estas experiências visam criar novos seres que tenham vida própria, mas que obedeçam aos comandos humanos dados previamente na própria construção destes novos seres vivos. Com isto se visam criar fábricas biológicas que poderão produzir verdadeiros biocombustíveis em laboratório, como serão capazes de digerir lixo tóxico, absorver dióxido de carbono e outros gazes poluentes que estão na origem do efeito estufa.
As expectativas nesta linha não são de hoje, e de alguma forma, já há milhões e milhões micro organismos em ação: conjugando microeletrônica, biologia molecular e nanotecnologia, micróbios funcionam como se fossem sondas de DNA, passando as informações para bactérias associadas a genes informantes e iniciado o trabalho de limpeza. Esta operação denomina-se “biorremediação” e já está atuando em muitas partes do mundo, despoluindo rios, lagos e mares...
E mais ainda: o sonho é que estas verdadeiras usinas biológicas sejam verdadeiras indústrias terapêuticas que substituam os tradicionais medicamentos. Aliás os “tradicionais” medicamentos, por mais sofisticados que sejam, já há algum tempo se encontram na lista de produtos que deverão ser logo descartados: eles são por demais genéricos, agindo em todas as direções e com isto muitas vezes fazendo mais mal do que bem. O que já algum tempo se encontrava entre os objetivos mais importantes era a produção de medicamentos personalizados e “sob medida”. Se estas experiências agora anunciadas tiverem êxito até estes medicamentos iriam tornar-se dispensáveis. Agora bastaria tomar pílulas que seriam capazes de ligar ou desligar as fábricas de medicamentos, que seriam nossas próprias células.
Convenhamos que tudo isto é difícil de ser compreendido e nos deixa realmente confusos. Mais difícil ainda é admitir a possibilidade de se criar vida artificial, com a capacidade de auto- sustentação e reprodução. Sempre ouvimos dizer que só Deus é o Criador de tudo. Será que agora precisamos admitir que o homem também seria capaz de criar algo a partir do nada?
Não é bem assim. Em primeiro lugar porque estamos ainda tratando de bactérias, organismos super simples; e no caso em questão estamos falando de uma bactéria chamada mycoplasma genitalium, cujo genoma foi mapeado, estudado e desmontado, para ser recomposto com outras propriedades. Fazendo uma comparação com o mundo da informática se poderia dizer que foi preparado um software ( programa) para uma bactéria cumprir uma tarefa específica, mas até aqui ainda não se sabe como ativar este programa. E como observa o professor de engenharia biomédica de Boston, Jim Collins, a ciência ainda está longe de entender o que é a vida e o que a comanda.
De qualquer forma, decisivamente nos encontramos hoje numa situação onde a tecnologia avança a passos largos, bem mais de pressa do que as reflexões de cunho jurídico e ético. Ademais, ao mesmo tempo em que olhamos com esperança para o que se denomina medicina molecular e de biologia ambiental, capazes de apagar os efeitos desastrosos de pecados anteriores, uma vez mais, e sempre de novo, nos sentimos perplexos. Isto não só porque estas novas criaturas podem “enlouquecer” , mas porque podem ser programadas para enlouquecerem e passarem a agir perversamente. Como tantos outros inventos anteriores, todas as descobertas vêm carregadas de uma ambivalência radical: tanto podem ser colocadas ao serviço da vida, quanto ao serviço da morte. Com uma diferença em relação ao passado: fica cada vez mais claro que as clássicas armas representadas por fuzis, metralhadores, canhões e tanques, só servirão para produzir filmes de terror e para serem guardadas em museus. As verdadeiras armas serão invisíveis e bem mais mortíferas. E as infundadas acusações contra Sadam Hussein, de que possuiria terríveis armas biológicas e bacteriológicas irão se transformar em verdades comprovadas: não no pobre e destruído Iraque mas em milhares de laboratórios espalhados pelo mundo afora, sempre na espera de receber uma única ordem referente à direção para a qual serão encaminhadas. Ninguém vê, ninguém sente, ninguém sente nenhum odor: simplesmente todos morrem sem causas aparentes
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