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quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

CONSTERNAÇÃO PELO CANCELAMENTO DA VISITA PAPAL À UNIVERSIDADE ROMANA "LA SAPIENZA"

Cidade do Vaticano, 17 jan (RV) - Bento XVI cancelou, na terça-feira, sua anunciada visita à Universidade romana "La Sapienza", em virtude dos protestos de alunos e professores. É a primeira vez, em seu pontificado, que ele se vê forçado a cancelar um evento devido a manifestações negativas. Bento XVI havia sido convidado pelo magnífico reitor da Universidade, para a inauguração do ano acadêmico, dedicado "ao compromisso de abolir a pena de morte no mundo".A Santa Sé "considerou oportuno cancelar a visita do papa à Universidade "La Sapienza", devido aos acontecimentos registrados nos últimos dias" _ afirma o comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé. O protesto teve início com um abaixo-assinado de 67 membros do corpo docente da "La Sapienza", no qual alegavam que o papa não seria bem-vindo, por ser um teólogo que coloca a religião acima da ciência.O grupo citou um discurso proferido há quase duas décadas, na mesma Universidade, pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, no qual ele parecia justificar o julgamento de Galileu, ocorrido no século XVII. Galileu foi considerado herege, por ter defendido a teoria heliocêntrica (a Terra gira em torno do Sol) num momento em que se acreditava no geocentrismo (a Terra é que era o centro do Universo).Os universitários da "La Sapienza" ocuparam a Reitoria e lançaram uma "semana anticlerical", com a projeção de um filme sobre Galileu e um "almoço social, com vinho e carne de porco" para protestar contra a visita papal.Em virtude do crescente clima de tensão gerado pelos protestos, Bento XVI decidiu não participar do ato, organizado por ocasião da inauguração do ano acadêmico, e vai se limitar a enviar o discurso que deveria proferir, como consta da nota da Sala de Imprensa da Santa Sé.A "La Sapienza" foi fundada há 705 anos, por Bonifácio VIII. O magnífico reitor, Renato Guarini, que convidou Bento XVI, disse que o incidente serve para levar católicos e ateus a refletirem. Em 2006, Bento XVI já havia atraído protestos, por causa de uma citação num seu discurso, proferido na Universidade alemã de Regensburg, quando citou um imperador bizantino do século XIV, para quem, o Islã era "uma religião que se baseia na violência". O discurso provocou violentos protestos no mundo islâmico, e o papa, sucessivamente, explicou que se tratara de um "mal-entendido".O anuncio do cancelamento da visita do papa à Universidade romana gerou algumas manifestações de apoio ao pontífice, por parte não só de setores da Igreja, mas também da política e da sociedade civil.A presidência da Conferência Episcopal Italiana divulgou uma nota de solidariedade a Bento XVI, na qual afirma que o episódio foi "uma grave rejeição, que manifesta intolerância antidemocrática e fechamento cultural". "Desejamos que através da recuperação da identidade cultural e da função educativa da Universidade, a vida do ateneu possa retomar a forma ordenada, que permita o aprendizado e o confronto cultural, a serviço da pessoa e da sociedade" _ conclui a nota.A Ação Católica Italiana também emitiu uma nota sobre o caso, afirmando que o mundo católico não deve ceder, nesta queda de braço. O texto questiona ainda, se a Universidade não deveria ser o local do "saber livre e ilimitado".O primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, afirmou que "nenhuma voz se deve calar" na Itália "e muito menos a do papa". Prodi disse que condena os gestos, as declarações e as atitudes que, segundo ele, provocaram uma tensão inaceitável e um clima que não faz honra às outras tradições de civilização e de tolerância da Itália. Por sua vez, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, enviou uma carta especial ao papa, que ainda não foi divulgada. Enquanto o ex-primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, aproveitou a oportunidade para acusar o Estado que, segundo ele, "não se demonstra capaz de garantir a liberdade de expressão à máxima autoridade religiosa".O Nobel de Literatura, Dario Fo, crítico contumaz da Igreja, também defendeu o direito do papa à expressão. Dario Fo afirma que é "contra toda e qualquer forma de censura, porque o direito de expressão é sagrado". (CM/JD/AF)

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